Micro e pequenos empresários usam a internet para ampliar os negócios



Durante uma década, Henrique César ouviu diariamente a seguinte frase: “A foto não está igual o lanche da caixinha”. Trabalhando numa rede de fast-food, ele tinha como principal preocupação a comida a ser entregue. Queria que a imagem fosse o mais fiel possível ao que era divulgado, e foi essa exigência que ele carregou para sua própria hamburgueria, em Vila Velha, criada após seu pedido de demissão.

O negócio de Henrique decolou depois que ele percebeu a importância de estar na internet. Sempre que posta um hambúrguer, a venda aumenta

O negócio de Henrique decolou depois que ele percebeu a importância de estar na internet. Sempre que posta um hambúrguer, a venda aumenta Foto: Guilherme Ferrari

Henrique é um exemplo do empreendedor dos novos tempos. Cada foto de hambúrguer que ele posta no Facebook rende cerca de 900 curtidas, muitos compartilhamentos e, claro, o aumento nas vendas. É assim vai conquistando a clientela e ganhando dinheiro.

A verdade é que o mundo mudou, e a forma de fazer negócios também. Basta um clique e você compra desde uma simples camisa branca a um carro. Tudo no conforto de sua casa. De acordo com dados do relatório Webshoppers 35, divulgado pela Ebit, empresa que acompanha a evolução do varejo digital no país desde o seu início, o faturamento do comércio eletrônico em 2016 foi da ordem de R$ 44,4 bilhões. O número representa um crescimento nominal de 7,4% em relação a 2015, quando foram registrados R$ 41,3 bilhões.

Também foi observado no ano passado o crescimento no número de e-consumidores ativos no Brasil. Isso mostra que o consumidor continua buscando encontrar no e-commerce vantagens que o varejo tradicional não consegue oferecer. “As compras via dispositivos móveis foram importantes para o aumento das vendas no Brasil em 2016. Muitos consumidores, que não tinham acesso à internet, realizaram no ano passado a sua primeira compra utilizando o smartphone. Em outros países, como China e Índia, esse fenômeno pode ser constatado com ainda mais intensidade”, afirma o CEO da Ebit, Pedro Guasti.

Há oito anos, ao criar Rick’s Burger, Henrique teve uma visão de negócio. Mas só quando enxergou a importância de estar na Internet que tudo começou a deslanchar. “Comecei a postar fotos dos sanduíches na rede social e o negócio decolou. Em oito meses já eram mais de 30 mil seguidores no Facebook. E sempre que posto uma foto do hambúrguer no face ou no Instagram vejo que há um aumento de 25% nas vendas”.

Ele, que tem 36 anos, também tem uma receita secreta para fazer sucesso. “Sempre fiz um hambúrguer fora da curva, com todos os ingredientes artesanais. O pão, por exemplo, é uma receita exclusiva”, conta.

Outra sacada foi adotar o sistema de praças de alimentação de shoppings para diminuir o valor do produto – que custa entre R$ 14 e R$ 19. “Trabalho com senha e, assim, não preciso gastar com garçom”. Ao todo são 12 hambúrgueres no cardápio.

Com o site em manutenção, ele aposta, por enquanto, nas redes sociais. “Usamos táticas para atrair clientes. As fotos são postadas duas vezes ao dia. A primeira de manhã, quando as pessoas estão acordando e irão pensar no que vão comer à noite. E pouco antes da loja abrir. É o que chamamos de horário de ataque”, conta ele, que pretende em três meses abrir uma loja em Vitória.

Sucesso no Instagram

A designer de joias Carolina Neves “bomba” no Instagram, onde tem 60 mil seguidores

A designer de joias Carolina Neves “bomba” no Instagram, onde tem 60 mil seguidores Foto: Rafael Fanti

Se Henrique conseguiu aumentar as vendas através do Facebook, a designer de joias Carolina Neves “bomba” no Instagram. A rede social se tornou fundamental para as empresas otimizarem a divulgação de seus produtos e serviços, mas são as fashion brands (marcas de moda) que brilham na plataforma de maior apelo estético e visual. Segundo dados do Webshoppers 35, os segmentos de moda e acessórios voltou a liderar as vendas do e-commerce brasileiro no ano passado.

Um estudo feito pela empresa Socialbakers mostra como o segmento se destaca em relação aos demais. Os perfis desse segmento recebem três vezes mais interações, tem o triplo de seguidores e cresceram três vez mais do que os demais perfis na primeira metade de 2016.

Esses perfis se apropriam basicamente de fotos para desenvolver sua estratégia de conteúdo, vídeos estão presentes, em menor quantidade, porém quando utilizados costumam ter mais interações. Além disso as marcas não utilizam os filtros que a plataforma oferece, mais de 90% do conteúdo é postado sem filtro.

Esse é um dos segredos da designer capixaba que tem mais de 60 mil seguidores no Instagram. Com cinco anos de marca, há um mês ela lançou um site para e-commerce. “Hoje temos um percentual representativo de vendas no online”, comenta. Ela, que tem uma consultoria e a considera muito importante para o seu sucesso, cuida pessoalmente da conta no Instragram. “Tenho todo o cuidado e muitas coisas acontecem através dele. A foto tem que ser sutil. Fotos de cliente usando a peça também é um sucesso. A gente vende um lifestyle”, ressalta.

Carol queria ser advogada, mas viu o rumo profissional mudar no retorno de uma viagem de nove meses para Londres. “Foi aí que surgiram os negócios na minha vida. E no meio da faculdade comecei a revender peças de prata”. Quando percebeu já estava dentro da oficina e em contato com ourives e pedristas. Com o negócio na internet ela vende para outros Estados e até para o exterior, como Canadá. “Vender joia online não é fácil. Mas temos conseguido fazer sucesso nas vendas”, conta ela, que tem uma loja em Vitória, um ponto de venda em São Paulo e no próximo mês participará da Feira de Milão.

Vendas para o mundo

Por falar em lifestyle, Luisa Meirelles, uma das blogueiras mais celebradas do Estado, transformou seu estilo de vida em negócio. A capixaba é uma das pioneiras no mundo dos blogs e tudo que ela veste vira desejo entre as seguidoras. “Comecei postando fotos no Orkut quando fiz um intercâmbio para o Canadá, em 2008. Viajava, fotografava e várias pessoas acompanhavam”, conta.

Luisa ingressou no mundo dos blogs de moda com apenas 18 anos, com uma amiga, no comando do extinto blog “Passion 4 fashion”. Mas conquistou de vez seu espaço, tornando-se referência de estilo para milhares de meninas e passando a ser cobiçada por grifes de todo o país. Tempo depois criou o próprio site, onde também está inserido o blog. “Eu já fazia publicidade e algumas parcerias no primeiro blog. Mas foi com o meu site que conquistei a minha independência financeira”, conta ela, que também faz sucesso no Instagram.

Aos 25 anos, formada em Direito, ela faz sucesso mesmo na moda. Inclusive lançou a própria marca, que tem a sua identidade e vende para o país e exterior, além de ter uma loja física na Praia do Canto. “Ainda assim, meu foco é a venda online”, afirma.

Luisa Meirelles é uma das pioneiras no mundo dos blogs; tudo o que ela veste vira desejo Foto: Marcelo Prest

Autor: Guilherme Sillva

Fonte: Revista.AG Publicado em 19/03/2017 às 13h39